A Câmara de Jundiaí vota nesta terça-feira (15) a moção de repúdio às cotas trans da Unicamp. A proposta, assinada pelo vereador Rodrigo Albino (PL), ignora dados básicos sobre exclusão educacional e violência.
Votação marcada por tensão e simbolismo político
Nesta terça-feira (15), a Câmara Municipal de Jundiaí decidirá se endossa ou não a Moção nº 40/2025, apresentada pelo vereador Rodrigo Albino (PL), que se posiciona contra a criação de cotas para pessoas trans, travestis e não-binárias pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A votação promete medir o termômetro local em relação às políticas públicas de inclusão — ou, no mínimo, à disposição de dialogar com a realidade.
A proposta da Unicamp, aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário no início de abril, não reduz vagas da ampla concorrência. Em vez disso, pode criar vagas adicionais específicas, respeitando o direito de todos os demais grupos. Mesmo assim, a moção sustenta que as cotas deveriam atender apenas “critérios socioeconômicos e educacionais amplos”.
A crítica poderia soar razoável — se ao menos reconhecesse que a população trans figura justamente entre as mais atingidas por desigualdade social e fracasso educacional. Mas a moção, curiosamente, ignora esse dado.
Dados ignorados: a realidade da população trans
Segundo o Censo Trans da Rede Trans Brasil:
- 63,9% das mulheres trans não concluíram o ensino médio;
- 34,7% sequer terminaram o ensino fundamental.
Falar em “critério educacional” sem mencionar isso é, no mínimo, um salto lógico desconcertante. Ou deliberado.
Além disso, o Brasil segue como líder mundial em assassinatos de pessoas trans: em 2024, foram 105 mortes, com o Estado de São Paulo no topo do ranking nacional, com 17 casos. Esses números não aparecem na moção, tampouco qualquer citação a audiências públicas, estudos universitários ou escuta ativa — processos que basearam a decisão da Unicamp.
Uma tendência nacional que avança
A Unicamp não está sozinha. A Universidade de Brasília (UnB) aprovou em outubro de 2024 a adoção de cotas para pessoas trans na graduação, tornando-se a 18ª universidade pública brasileira a implementar esse tipo de política afirmativa. O movimento é nacional, amparado por dados e por recomendações de entidades de direitos humanos e políticas públicas.
Entretanto, a decisão da Unicamp passou a ser questionada judicialmente. O Ministério Público do Estado de São Paulo solicitou à universidade os estudos técnicos e registros de audiências públicas que embasaram a criação da nova modalidade de cota. Até o momento, a Unicamp ainda não se manifestou publicamente sobre a cobrança.
Quando o discurso político descola da realidade
A moção parte de uma tese genérica, que, por mais que evoque a ideia de igualdade, não se sustenta diante da realidade concreta. E, ao ignorar completamente os dados que fundamentam a política da universidade, não oferece alternativas, apenas um gesto político com destino certo: agradar a própria base.
A sessão desta terça-feira pode revelar mais do que o posicionamento da Câmara: pode deixar claro quem, entre os legisladores locais, ainda prefere o conforto da ideologia à incômoda, porém necessária, escuta da realidade. Afinal, cotas existem para corrigir desigualdades — e não para satisfazer retóricas eleitorais.
Leia a moção N° 40/2025 na íntegra:
