Em Jundiaí, o cenário eleitoral para 2026 começa a ganhar forma. Entre nomes que tentam se manter no jogo e novas apostas que ganham força, a disputa promete mais que intenções: promete embates ideológicos, estratégias afiadas e uma corrida por protagonismo regional.
As peças do tabuleiro começam a se mover
A política, em Jundiaí, funciona como um tabuleiro de xadrez onde os movimentos começam muito antes do início da partida. Em pleno 2025, já se vê cavaleiros se adiantando, bispos dobrando discursos e até alguns reis fora do trono tentando voltar ao centro do jogo. A eleição de 2026 ainda parece distante no calendário, mas nos bastidores ela já acontece em ritmo acelerado — com lances tão previsíveis quanto calculados.
Enquanto os discursos públicos ainda miram a gestão e o cotidiano da cidade, nos bastidores já se esboçam cenários mais amplos. Partidos se reúnem, conversas se intensificam e nomes começam a circular — alguns com mais entusiasmo que prudência, outros com a discrição de quem entende que política se constrói primeiro em silêncio. Por isso, separamos oito nomes que parecem ser escutados com mais frequência entre os ouvidos mais atentos.
Quézia de Lucca (PL)

Desde que conquistou a maior votação para a Câmara em 2024, Quézia de Lucca (PL) deixou claro que seus olhos estão além da cadeira de vereadora. Não é raro vê-la transformando o plenário em palanque, com discursos inflamados que, curiosamente, miram mais na visibilidade estadual do que em soluções locais. Em um ambiente onde o debate deveria gerar propostas, a insistência em atacar sistematicamente a atual gestão levanta uma dúvida inevitável: a crítica constrói ou apenas projeta?
Seus colegas já a classificaram, ainda que indiretamente, como integrante do time do “quanto pior, melhor” — expressão que ganhou força nos corredores da Câmara para descrever uma oposição mais interessada em narrativas do que em resultados. Em tempos eleitorais, esse estilo costuma render manchetes, curtidas e cliques. Mas renderá votos conscientes? Essa é a equação que Quézia parece disposta a testar — com a cidade como laboratório.
Luiz Fernando Machado (PL)

Depois de dois mandatos como prefeito, Luiz Fernando Machado (PL) deixou a administração de Jundiaí com a confiança de quem acreditava ter ainda muito fôlego político. E talvez por isso tenha estendido sua sombra sobre a eleição seguinte, apostando que sua popularidade garantiria a vitória de seu sucessor indicado. Não garantiu.
Agora, instalado em uma secretaria na Prefeitura de São Paulo, Luiz Fernando articula discretamente um retorno como deputado federal. A dúvida que paira é sobre a sua leitura de cenário. Afinal, após oito anos de poder e um recuo imposto pelas urnas, insistir em novo protagonismo pode parecer mais obstinação do que renovação. E o eleitor de 2026 já demonstrou que não costuma seguir roteiros escritos por outros.
Antônio Albino (PL)

Esse é um caso emblemático de quem tenta entrar no jogo mesmo sem lugar na mesa. Integrante do PL, Albino já dá sinais claros de que pretende disputar uma vaga em 2026. O problema? Seu partido parece já ter escolhido seus protagonistas: Quézia de Lucca para estadual e Luiz Fernando Machado para federal.
Com pouco espaço e muito incômodo, Albino ensaia um movimento alternativo: trocar de sigla. E é aí que os bastidores ganham temperatura. Após a aproximação entre Ricardo Salles e o partido Novo, o ex-ministro estaria mirando cidades estratégicas — e Jundiaí seria uma delas. Coincidência ou não, o diretório local foi extinto, e circulam rumores de que Albino assumiria o comando, abrindo caminho para sua candidatura.
Até agora, são apenas especulações. Mas se concretizar, será mais uma reconfiguração silenciosa para tentar burlar as limitações internas do próprio grupo.
Felipe Pinheiro (REDE)

Candidato a vice-prefeito em 2024 na chapa encabeçada por Higor Codarin, Felipe Pinheiro agora mira a Assembleia Legislativa de São Paulo. Filiado à Rede Solidariedade, ele já se apresenta como pré-candidato e aposta em uma plataforma progressista voltada a temas como segurança alimentar, trabalho e sustentabilidade.
Em sua própria avaliação, a candidatura busca “oferecer ao eleitor da região uma alternativa progressista para a ALESP, e fazer o debate político sobre temas que realmente impactam o cotidiano e a vida das pessoas”.
Para ganhar tração no pleito, Felipe tenta consolidar uma aliança estratégica com a atual Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva — que, apesar de licenciada, foi eleita como deputada federal. A articulação com a direção estadual da Rede busca justamente viabilizar essa dobradinha, o que, se confirmada, pode colocar Felipe em outro patamar de visibilidade dentro do campo progressista regional.
Silas Feitosa (PRTB)

Silas Feitosa disputou as eleições municipais de 2024 e terminou em quinto lugar, com 2.545 votos. O desempenho modesto não o afastou do cenário político: atualmente, ocupa o cargo de Diretor-Presidente da Escola de Gestão Pública de Jundiaí.
Nos bastidores, comenta-se que Silas estaria em conversas com o Avante, partido com o qual poderia tentar reposicionar sua trajetória. A filiação ainda é incerta — assim como seu futuro político. Mas, em Jundiaí, até mesmo derrotas viram plataforma.
Mariana Janeiro (PT)

Única vereadora eleita pelo PT em Jundiaí, Mariana Janeiro representa uma figura simbólica e constante no cenário progressista local. Com pautas voltadas à inclusão, igualdade racial e justiça social, ela construiu uma base fiel e engajada, especialmente nas periferias e entre os movimentos sociais. Sua presença na Câmara é marcada por posicionamentos firmes e uma comunicação direta com o eleitorado.
Apesar disso, a busca por uma vaga no Congresso Nacional ainda não se concretizou. Mariana já disputou a eleição para deputada federal em 2018 e 2022, sem sucesso. Agora, quando questionada sobre 2026, responde que só tratará do tema a partir de agosto — o que, no universo político, soa muito mais como confirmação antecipada.
Ricardo Benassi (Novo)

Vice-prefeito e atual gestor de Governo e Finanças de Jundiaí, Ricardo Benassi (Novo) é um nome que cresceu longe dos holofotes, mas perto das decisões centrais. Com um perfil técnico e pragmático, tornou-se uma das vozes mais influentes na engrenagem administrativa da cidade. E, ao contrário de quem se alimenta do embate público, Benassi construiu sua presença com base em resultados e articulação nos bastidores.
Nos últimos meses, seu nome começou a ser sondado como possível candidato a deputado federal. As movimentações dentro do Novo — inclusive a extinção do diretório local — alimentaram especulações sobre seu destino partidário. Se decidir entrar na disputa, levará consigo o peso de quem tem experiência acumulada onde realmente se constrói política: na entrega, não apenas no discurso. Entretanto, fontes internas dizem que o vice-prefeito mantém o foco total em seu trabalho na Prefeitura.
Edicarlos Vieira (União Brasil)

Presidente da Câmara Municipal e vereador por três mandatos consecutivos, Edicarlos Vieira (União Brasil) representa um perfil cada vez mais raro na política local: o da constância. Não é dado a rompantes, não protagoniza polêmicas e tampouco faz da retórica um espetáculo. Sua força está justamente na construção silenciosa e progressiva de credibilidade — tanto entre os colegas de Legislativo quanto na base que o reelegeu com 6.959 votos em 2024, a terceira maior votação da cidade.
Ainda não há declaração pública sobre eventual candidatura, mas seu nome é cada vez mais citado como uma aposta sólida do União Brasil para as eleições de 2026. Experiência parlamentar ele tem. Capacidade de articulação também. E talvez seja justamente essa combinação — entre base sólida e postura equilibrada — que o coloque entre os poucos nomes com reais condições de representar Jundiaí em esferas mais altas, sem precisar prometer o que não sabe entregar.
Sem representante, Jundiaí vira nota de rodapé
Em meio a tantos nomes, especulações e articulações, uma verdade se mantém incontestável: Jundiaí precisa — e merece — ter representantes próprios nas instâncias legislativas estadual e federal. Não se trata apenas de orgulho regional, mas de eficiência política. Deputados que conhecem a realidade local, transitam pelos bairros, entendem as demandas da saúde, da mobilidade, da habitação, têm muito mais condições de defender com convicção e prioridade os interesses da cidade.
A presença de um nome local na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados pode significar mais emendas parlamentares, maior articulação junto a secretarias estaduais e ministérios, agilidade na liberação de recursos e, principalmente, visibilidade para projetos que, de outra forma, não passariam do papel. Quando a cidade tem voz ativa nos espaços de decisão, ela deixa de depender exclusivamente da boa vontade de terceiros e passa a influenciar diretamente o próprio destino.
Em 2026, o eleitor de Jundiaí terá a oportunidade de ir além do voto: poderá escolher quem realmente entende os desafios da cidade — porque os vive diariamente. A pergunta que ficará até lá é simples, mas crucial: entre discursos prontos e trajetórias sólidas, quem você quer que fale por Jundiaí?